Sorte grande e a terminação!
De qualquer forma, e apesar de bafejado pela sorte em meia-dúzia de lances que podiam ter dado vantagem ao Barcelona, o Benfica soube fazer um jogo inteligente, um jogo de realpolitik, que adiou a decisão da eliminatória para o Camp Nou. Afinal o Dia da Besta, que o Malvado preconizava com a pontinha de inveja que os clubes de bairro costumam nutrir pelos grandes, acabou por ser um jogo em que o fiel da balança podia ter pendido para qualquer um dos lados. Afinal, apesar da superioridade individual e de mecanismos do Barcelona, o glorioso mostrou que não há jogos nem eliminatórias ganhas à partida, e que com espírito de sacrifício, entrega e organização é possivel que David deite por terra os Golias. Se na primeira parte o Benfica mostrou a intranquilidade normal de quem vai enfrentar uma "besta", na segunda parte o Benfica mostrou que com um pouco de descaramento e atrevimento, é possível derrotar o Barcelona, basta acreditar e arriscar um pouco mais, e depois contar com um pouco de sorte ou de desinspiração dos seus adversários.
O resultado é bom, porque é realista, não sofrendo golos o Benfica coloca o Barcelona com necessárias cautelas para a segunda mão, e se eventualmente o Benfica conseguir assumir a postura competitiva que demonstrou na segunda parte de ontem, então o dia da besta pode transformar-se no dia de festa. Eliminar o Barcelona, a melhor equipa do mundo seria neste momento a melhor compensação para a massa associativa defraudada por um campeonato irregular em que deixamos o pássaro fugir, quando o tinhamos na mão. Eu acredito na superioridade evidente do Barcelona, mas também acredito na mística dos tomba-gigantes. Ontem podíamos ter sofrido seis golos, mas pelas minhas contas, também podiamos ter marcado quatro golitos, o que não é coisa pouca contra uma equipa como o Barcelona.
Do ponto de vista individual, queria destacar a magnífica exibição do Moretto, que o sr. Rui Santos quis crucificar ontem após o jogo, mas que apesar dos dois erros absurdos (nenhum deles resultou em golo), foi o principal garante da inviolabilidade da baliza encarnada (o segundo foi o barrote). Para o Moretto assumir o seu estatuto de grande guarda-redes falta-lhe apenas a serenidade suficiente para não complicar nos lances simples, porque como todos os grandes guarda-redes, ele já mostrou saber simplificar, os lances complexos. Se o senhor Rui Santos não percebe isto, então lamentavelmente, não percebe nada de futebol.
Duas palavrinhas ainda para dois dos mal-amados da Luz: Ricardo Rocha e Beto, autores de magníficas exibições de concentração, entrega e até inteligência (que normalmente lhes falta), a mostrarem que são jogadores que merecem mais respeito dos adeptos, respeito que obviamente não merece um senhor chamado Lauren Robert, que veio rotulado de craque, mas que até agora mostrou ser um autêntico "bluff", previsivel, vedeta e calão, que teve o descaramento de estranhar a substituição ao intervalo, quando qualquer pessoa com dois olhos veria facilmente que era um jogador a menos na equipa, como aliás tem sido (à excepção daquele pontapé fortuito que nos deu a vitória contra o Porto). O sr. Robert não tem qualidade mínima para jogar no Benfica e deve receber o seu guia de marcha o mais depressa possível.
Finalmente, uma palavra para o "astro" Ronaldinho Gaúcho - impressionante a magia que transmite ao jogo sempre que toca na bola, quer seja em passes "mortais" para os avançados, quer seja naquelas suas arrancadas de "cortar a respiração". Magia é a única forma para explicar a forma como ele joga. Ontem, mesmo bem guardado perfumou o futebol do Barcelona de uma forma que nos recorda porque é que o futebol é o mais maravilhoso e poético dos desportos.
Sublime.