segunda-feira, outubro 1

De Kikin Fonseca a Cardoso - Ensaio sobre a estupidez

O Benfica vive na angústia da falta de resultados desportivos e na orfandade de um ponta-de-lança goleador. O último grande goleador a jogar no Benfica foi o holandês Van Hooijdonk, rapidamente "corrido", porque era caro e velho. A partir daí o Benfica não voltou a ter um ponta-de-lança de qualidade, que se afirmasse com mais de, digamos 15 golos por época, que é o mínimo que se pode exigir. Simão foi, durante anos, disfarçando essa insuficiência, não pode combater o velho estigma do Benfica - a falta de avançados - e todos os anos a massa associativa vibra com as milionárias contratações de Verão - que poucos meses depois são assobiados e discretamente dispensados para campeonatos remotos.
O mexicano Kikin Fonseca e o paraguaio Cardoso são os últimos exemplos desta desastrosa política de contratações que ano após ano arruína as legítimas esperanças dos adeptos, alimentada por demagogos na direcção e na imprensa desportiva. Fonseca não teve no Benfica oportunidade de jogar continuadamente e sob a pressão dos resultados e da falta de eficácia e adaptação acabou por ser vendido quatro meses depois, quando o Benfica ainda lutava pelo título, e tendo de terminar a época apenas com Miccoli como avançado.

Cardoso, ameaça ser um disco repetido. Por um lado, é bom não esquecer, que o internacional paraguaio vem de um campeonato no outro lado do mundo, onde o futebol é mais lento e menos pressionante, não teve férias, já que disputou a Copa América, e ainda por cima é lançado numa equipa em reconstrução, onde o seu perfil de jogador não se adapta.

Não é preciso ser sabichão da bola ou usar gravatas berrantes, para perceber que Cardoso é um avançado lento que só sabe jogar de frente para a baliza e de preferência à frente dela. Tem mais de 1,90 m e precisa que lhe chegue jogo em condições. Ora, é um avançado para jogar em 4x3x3, ou pelo menos com flanqueadores que lhe coloquem a bola na área para explorar o seu jogo de cabeça. Ora contem lá quantos flanqueadores há na equipa titular do Benfica e quantas vezes a equipa encarnada chega à linha de fundo para cruzamentos para a área. Acho que é mais fácil encontrar um político honesto.
Moral da história, gastam-se 9 milhões de euros para um avançado que só serve para um determinado modelo de jogo, que após a saída de Simão, o Benfica dificilmente tem condições de colocar em práctica, até porque o treinador prefere médios interiores e futebol apoiado, ao flanqueamento pelos extremos. Previsivelmente, Cardoso vai saír pela porta baixa, e com ele 9 milhões de euros pelo cano, e os benfiquistas lá vão continuar a culpar Nuno Gomes pela falta de eficácia do ataque. É ou não é triste?