segunda-feira, junho 12

Pé canhão - Um calmante!

O jogo de estreia de Portugal com os palancas negras foi no mínimo um calmante, um xanax potente. Os profetas da desgraça ficaram mais tranquilos e anestesiados com um começo positivo em que amealhamos o mais importante - os três pontos.
Portugal conseguiu não entrar a perder numa fase final (lembram-se da derrota contra os EUA em 2002 e contra a Grécia em 2004) e apesar de realizar uma exibição delicodoce e pobrezinha, mostrou que sabe gerir a carga emocional e ser pragmática.

O que interessava era o resultado e foi só com isso que a equipa se preocupou. Um golo madrugador serviu para arrefecer os Palancas e mantê-los em respeitinho, já que controlámos toda a partida, deixando apenas espaço para um ou dois sustos, bem desfeitos por Ricardo.
É natural que tivéssemos uma ambição maior, e quando Cristiano Ronaldo é substituido para entrar Costinha a solidificar o meio-campo, confesso que me irritei e comecei logo a temer o pior. Uma substituição dessas, que Scolari tanto gosta de fazer é normalmente um convite à valsa para a equipa adversária, ou seja, transmite um sinal de fraqueza que pode ser fatal para uma equipa que baixa a guarda. (Como a bela Itália de Trappatoni foi eliminada do Euro 2004 com a Suécia; depois de uma primeira parte de luxo, a velha raposa retira dois avançados e mete um médio-defensivo e um defesa)
Mas, se virmos bem, no seu percurso na selecção, se há coisa que Scolari sempre fez bem e com resultados, foram as substituições.
É um treinador prudente e experiente que sabe o que é preciso para vencer, mesmo em sacrifício do espectáculo. Um sargentão pragmático que, goste-se ou não, acaba sempre por ver confirmado no campo a sua razão.

Penso que a decisão de poupar Deco foi acertada, ainda mais tendo como alternativa ao "Mágico", um senhor chamado Luis Figo, de longe o melhor jogador em campo.
A velocidade com que ultrapassou o defesa-cavalão para fazer a assistência para Pauleta é a prova de que em futebol a idade não é documento, e com um Figo em boa forma, destilando classe e talento, levando a equipa para a frente, Portugal bem pode ir poupando Deco para a fase do mata-mata.
Menos influente e um pouco nervoso esteve Cristiano Ronaldo, que não está emocionalmente equilibrado, o que se reflecte no seu jogo, menos explosivo e mais inconsequente, mas tenho a certeza que nas horas decisivas, Cristiano Ronaldo vai aparecer e "resolver".
A defesa esteve bem e concentrada, com Miguel a dar profundidade à ala-direita, pobremente aproveitada por Simão uns furos abaixo do que pode fazer. Claro que com Figo a "dez", Simão teria de ser titular; é obviamente um jogador de banco nesta selecção, mas um bom coelho para ter na cartola.

Quanto à grande dúvida, a constituição do meio-campo mais recuado, ao contrário do Malvado, saudoso do seu meio-campo europeu, penso que a opção Petit/Tiago foi correcta, mesmo que tenha sido prematuramente desagastada.
Petit é sempre melhor opção do que Costinha quando o objectivo é ter um meio-campo mais pressionante e ofensivo, e Tiago é um jogador mais cerebral e moderador do que Maniche, que funciona como um motor de explosão.
No entanto, em função do adversário e do elevado desgaste dos centro-campistas é de prever grande rotatividade no centro nevrálgico da batalha.
Tenho a certeza que este quarteto será utilizado em praticamente todos os jogos, independentemente de quem alinha no inicío. A vantagem é ter o miolo sempre fresco e com rodagem em competição, um luxo a que poucas selecções se podem dar.
Por fim, uma palavra para Pauleta, que já desfez o enguiço do Euro e meteu um golo que lhe retira um pouco de pressão e lhe pode dar asas à sua melhor qualidade, a espontaneidade.
No global e apesar da exibição murcha, acho que foi uma entrada com o pé-direito, uma entrada digna de uma selecção com ambições de chegar longe na competição.
Com o resultado do México-Irão, os asiáticos vão estar obrigados a ganhar contra Portugal, ou seja vão jogar mais abertos, e como se sabe a selecção portuguesa é mortífera em contra-ataque. Esta primeira jornada abre excelentes perspectivas a resolvermos já o apuramento no sábado, basta não dar abébias. Acho que desta vez chegamos lá sem o coração nas mãos e sem sofrimento, o que a acontecer, seria inédito na história do futebol português.