segunda-feira, julho 10

O Estado da Arte - Itália da forza!



A Itália foi o previsível vencedor de um campeonato do mundo de futebol em que se jogou o tipo e o estilo de jogo em que os italianos são superiores.
O catenaccio, que povoa o meio-campo, aferrolha a defesa e aposta tudo na pressão absoluta a todo-o-terreno, asfixiando por completo as equipas que precisam de cinco metros de espaço para embalar os seus talentos. O cinismo de contra-ataques esporádicos, mas mortíferos, traduzidos nos magros placards e nas raras ocasiões de golo. Uma pobreza franciscana que acabou por dar salvo-conduto às selecções que se preocuparam em apostar tudo na solidez e organização defensiva, esperando por um golpe de sorte ou de inspiração para resolver os jogos.
A Itália joga este futebol há 30 anos, e tem a a servir esse modelo de jogo, intérpretes experientes, claramente rotinados nas marcações duras e de garrote do calcio, e por isso é natural que quando todas as principais selecções do mundo optassem por este modelo de jogo, a Itália estaria a jogar em casa, e em superioridade, ditada por uma mentalidade forjada em décadas de "catenaccio".
Jogadores como Totti, Del Piero, Gillardino, Toni e Iaquinta são para esta Itália meramente instrumentais, eles apenas jogam porque é preciso ter avançados fortes que saibam defender e aproveitar contra-ataques. A quintessência desta selecção italiana é um triângulo defensivo - Canavarro, Gattuso e Pirlro. É este o coração do êxito italiano - Canavarro pela rapidez e autoridade com que arruma a defesa e orquestra as marcações. E Gattuso/Pirlro, Pirlro/Gattuso como uma espécie de Dr. Jekyll and Mr. Hyde - indissociáveis, intransponíveis, impressionantes. Gattuso, o monstro de trabalho, Pirlro o esteta-operário, o maestro que sabe quando acelerar o jogo, quando travar, quando reter a bola ou quando fazer os seus passes milimétricos a rasgar as linhas adversárias. Depois, para blindar a baliza que apenas foi violada duas vezes!!!! durante o torneio, o sr. Buffon, simplesmente o melhor guarda-redes do mundo. Última e justa palavra para dois laterais generosos e disciplinados - Zambrotta e Grosso que completam aquela que é a melhor equipa do mundo do meio-campo para trás, que foi onde se jogou e decidiu este campeonato do mundo.
Por isso mesmo, e porque este campeonato do mundo foi assim,julgo que o jogador que melhor o personifica é Pirlro, e não Zidane, percebo que a FIFA queira dar um louvor final ao génio francês e sobretudo emitir uma mensagem de esperança aos adeptos, um statement, dizendo que o futebol arte não está morto e pode ser colocado ao serviço do colectivismo feroz e estratégico.
Mais do que um statemente a FIFA precisa de reconsiderar seriamente qual o modelo de futebol que pretende para o futuro, e que revolução é preciso operar para que o futebol não se torne uma espécie de soporífera F1, onde as corridas são decididas nas boxes, com estratégias de corrida, mudanças de pneus e nuances tácticas que exigem um conhecimento quase científico do desporto para se poder apreciar os resultados. A FIA (homóloga da FIFA para o desporto automóvel) anda há anos a inventar regras para tentar que as corridas se decidam na pista, no braço e no talento, sem sucesso aparente, a FIFA é melhor começar já a pensar no assunto, a bem do futebol e daqueles que o amam.

2 Comments:

Blogger Bruno Ramos said...

será como diz o Vasco: ou nunca há mundiais deslumbrantes, ou neste faltou aparecer aquele jogador-revelação, que deslumbra tudo e todos?

11:21 da tarde  
Blogger Rui Pelejão said...

O mundial de 82 foi deslumbrante, o de 1986 também e o de 98 igualmente. O europeu de 2000 foi muito bom o de 96 também. Ou seja, não concordo muito com essa teoria do Vasco, apesar de perceber o que ele quer dizer. O que não é normal é nas meias-finais os resultados serem Itália-Alemanha 0-0 (2-0 no prolongamento) e França-Portugal 1-0, ou seja apenas um golo em tempo útil, e um golo de penalti, é decididamente muito pouco.

12:51 da tarde  

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