quarta-feira, fevereiro 15

Ilusões e desilusões: Uma lógica de rotatividade

Este campeonato tem definitivamente mais marés que marinheiros.
Todas as semanas nascem ilusões nos adeptos, que a nua e crua realidade acaba por desmentir, passadas poucas semanas.
Primeiro foi o Sporting e o Porto a rirem de barrote, com os oito pontos de vantagem sobre o Benfica. Depois foi a recuperação do Benfica, seguida de novo afundamento na tabela classificativa.
Seguiu-se (e já na era Paulo Bento), a descida ao inferno leonino, de onde saíram a pulso após a vitória sobre o Benfica. Agora já se nota uma euforiazinha incontida e pouco prudente na lagartada que, como se sabe, é a espécie mais propensa a entrar em delirus tremens, só justificáveis pelo exagerado consumo de alucinógeneos e minis.
Todos já tivemos a nossa quota parte de ilusões e desilusões, à parte do FC Porto que vive em permanente estado de desilusão, apesar de comandar com conforto o campeonato há já quase 10 jornadas. Koeman chamaria a isto a rotatividade dos estados de espírito.

Por falar em rotatividade, esse terá sido o principal problema do Benfica neste soluçante reinício de época. Koeman é um bom treinador, não é um génio, mas é um homem que transmite serenidade e confiança. Ás vezes erra, mas sabe aceitar e corrigir os erros. Por isso, a rotatividade que decidiu introduzir na equipa, graças aos reforços de Inverno, deve-se à aposta em várias frentes – o Benfica é a única equipa portuguesa que está em liça em todas as competições. Parece-me que agora há concorrência para praticamente todos os lugares da equipa, e isso é um dado benéfico para qualquer treinador. Acontece, que acho que a integração dos novos reforços não foi feita da melhor forma, e destruiu-se o equilíbrio da equipa que vinha em maré alta de uma série de resultados positivos (sem sempre haver correspondência exibicional). Julgo que o único erro de Koeman é lançar jogadores no onze, para depois os retirar sem lhes dar continuidade, espaço e oportunidade. Veja-se o caso de Karagounis, a grande estrela grega comprada no Verão, e que mesmo teno em conta as lesões, apenas fez seis jogos como titular. Ora numa posição em que o Benfica é deficitário e face ao tealento indiscutível do grego, seria de esperar que o técnico reiterasse a aposta mais vezes, para fazer “crescer” Karagounis na equipa. Esse é o único defeito de Koeman, não semeia jogadores na equipa, não lhe dá estabilidade e perante a pressão imediata dos resultados acaba por não poder colher os frutos das suas apostas. Entendo que a rotatividade tem aspectos positivos quando a sobrecarga de esforço nas fases finais dos campeonatos desgasta os elementos-chave da equipa, mas a rotatividade não pode sacrificar a identidade e a consistência.
Das mais ou menos sonantes, mas todas baratas aquisições do Benfica, nenhuma se impôs claramente na primeira linha (à excepção de Nelson), e muitas têm ainda tudo para mostrar: Miccoli até agora, dois jogos bons e um golo, Beto, muita parra e esforço, uva nenhuma. Manduca esforçado mas pouco eficaz e influente, e Marcel e Robert ainda nem se viram.

Acredito, por exemplo, que a boa vaga de resultados (exibições é que também não) se deve à estabilidade no onze e à boa forma de jogadores influentes como Custódio, Liedson e Moutinho. Mas para colocar um travão nas euforias lagartas, gostaria apenas de lhes sugerir que espreitassem para o banco, e vissem a extensão do problema assim que algum dos titulares se lesione, perca gás, ou seja amarelado? Essa é a vantagem da rotatividade, pode não trazer frutos imediatos, mas a longo prazo (e ainda faltam muitas jornadas) a vantagem é claramente do Benfica e sobretudo do FC Porto que têm equipas estruturadas e soluções alternativas. Por muito que custe à lagartada, não há milagres, e como disse o Koema há uns tempos, a questão do título é a dois – entre o Benfica e o Porto, e o Sporting assim que perder o pedal, irá caindo rapidamente para o seu lugar natural – lutar com o Braga, com o Boavista e com o Nacional pelo 3º lugar. Pode custar muito a quem embandeira em arco, mas o presidente do Nacional é que tinha razão, e esse é de momento o campeonato do Sporting, e será esse enquanto não fizer o género de investimento desportivo que o Benfica fez há dois anos e que lhe permitiu numa só época recuperar 60 milhões de euros de passivo, e sem sequer ter uma fábrica de talentos para ir vendendo. Não se pode ter a cantera a jogar na equipa, e querer uma equipa ganhadora e madura, isso só com o Ajax de há alguns anos, e vejam lá por onde é que ele anda agora no campeonato holandês.
O grande problema do Sporting é o mesmo do Benfica de há uns anos – vivem de ilusões, e alimentam-se de desilusões.

1 Comments:

Blogger Rui Pelejão said...

Finalmente, um momemto de bom senso lagarto. Assinale-se o momento, quanto à luta é apenas temporária, mas não deixa de facto de ser louvável, isso também sabemos reconhecer.

1:43 da tarde  

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