quinta-feira, maio 19

Desilusionismo leonino

Eu já tinha avisado que do sonho ao pesadelo vai apenas um passinho. E foi um passinho fatal. Fora de merdas, e não é por benfiquismo agudo, sempre achei que o Sporting não tem o estofo de campeão e de grande equipa que os lagartos pintavam, e está, conforme eu disse, a anos-luz do Porto de Mourinho.
Agora percebe-se que a comparação só era possível para fanáticos com os olhos e a análise toldadas pela clubite.
De qualquer forma, acho de inteira justiça, agora que já estão arrumados, dizer que a espaços, e nalguns jogos os lagartos foram a equipa que este ano (talvez em conjunto com o Braga, que não tem a mesma visibilidade) que melhor futebol apresentou em Portugal.

Mas um campeonato e os grandes desafios vencem-se com consistência e inteligência, duas coisas que faltam a este Sporting de Peseiro. Ao mais alto nível, um meio-campo criativo e capaz de excelente circulação de bola (tipo carrossel, como qualquer amante de futebol gosta) de nada vale sem a capacidade de harmónio dos centro-campistas.
Ou seja, na minha modesta opinião, de nada vale crucificar o Ricardo ou a defesa pela vulnerabilidade defensiva do Sporting, porque essa vulnerabilidade sempre existiu no meio-campo, onde apenas Custódio e por vezes Rochemback sabem recuperar bolas e fazer aquele trabalhos sujo e invisível que faz a diferença e o equilíbrio de uma equipa. O Sporting viveu um pouco, à devida escala, o síndrome do Real Madrid, demasiados artistas e poucos obreiros. Faltou um “Makelele” para o Sporting ter uma equipa à altura do seu talento. Se os meus amigos lagartos virem bem, o Porto tinha um triângulo no meio-campo, com capacidade de harmónio - todos atacavam e todos defendiam (Costinha/Maniche/Deco) é aí, no coração do terreno que se ganha a supremacia e a vantagem no futebol moderno. O Benfica foi mais consistente do que o Sporting porque tinha uma chave-mestra chamada Petit-Manuel Fernandes que o Sporting, por mais que vos custe, nunca teve. Ontem, Peseiro tentou corrigir a situação colocando “lastro” no meio-campo com o Rogério, mas atabalhoadamente deixou o Custódio no banco.
Ao jogo do Sporting de ontem não falou talento e futebol bonito – faltou corpo, ou seja: Pernas, pulmão, cabeça e coração, e sem isso não há milagres, como se viu ontem.

Para fechar o assunto, a desilusão sportinguista deve-se à sua própria ilusão – de terem uma equipa do outro mundo, que na verdade, nunca tiveram. Não vale a pena agora crucificarem o Peseiro, o Ricardo ou o Barbosa, porque se tiverem um pingo de bom senso percebem que este ano foram bem mais longe do que julgariam possível no início do campeonato, e se há culpa aqui é só da mania das grandezas que muitos adeptos leoninos continuam a ter. Essa é a diferença para nós benfiquistas, que já há muitos anos tivemos de meter a carapuça do realismo e do pragmatismo. Sem futebol de encher o olho e esperanças para altos voos, sempre agradecemos aos céus cada pontinho e cada golinho, e nunca nos mandamos para fora de pé nas expectativas. Mesmo que vejamos o campeonato a fugir-nos das mãos no domingo, a queda será sempre bem menor do que aquela que o Sporting sofreu em quatro dias, porque ao contrário da lagartada nós nunca sonhamos tão alto. É a metáfora de Ícaro, sobre a soberba. E toda a gente sabe qual é o antónimo da soberba …. é a humildade.

1 Comments:

Blogger Rui Pelejão said...

O problema não é a arrogância, é a mania das grandezas, e de grande o Sporting só tem mesmo a mania.

PS: A propósito, descobri no outro dia em que lugar fica o Newcastle na liga inglesa - em 14º!!!! ora aí está uma equipa grande, como o Sporting.

11:34 da manhã  

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